Vela

por Danielle   

    De repente, um calor.

   Fraco, começou aquecendo meu exterior. O ar ao meu redor começou a cheirar abafado e seco. Uma luz forte se aproximava. Cada vez mais luminosa, me cegava.

   Então o calor aumentou, continuou aumentando. E doeu.

  Doeu demais, quase insuportavel. Aquilo que começou fraco agora queimava forte e tomava forma, a me devorar. Sentia minha extremidade se encolher, se contorcendo.

   Havia algo que pudesse fazer?

  Pouco a pouco aquilo ia me consumindo, tranformando-se numa tortura constante, a ponto de me acostumar com o sofrimento. Era, agora, uma dor previsível.

   Senti minha superfície suar. Eu estava me desfazendo pouco a pouco e me tornei líquida, até que, sufocada, chorei grossas gotas brancas, gotas pesadas de desespero, um chorar surdo. Elas escorriam por mim e doíam. Uma dor nova, e quis chorar de novo, mas chorar queimava.

   Pouco a pouco fui perdendo minhas forças, a dor anestesiava meu todo e meu ser contorcia-se inútil. Já não poderia servir para mais nada. Toda minha existencia se resumia a isso.

   Cega, já não pensava mais, só me restava sentir o que sobrara de mim arder. Até que parou.

   Meu corpo, agora líquido, e meu ser, agora cinzas, já não eram nada. O ar ao meu redor passou gelado e levantou a leve fumaça que de mim saía.

   E me acabei.

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